sábado, 18 de maio de 2013

The Sunset Limited , 2011 - O abismo para fé e ceticismo

Posted by Cândido Augusto on 17:37


"O lado negro sempre é o correto" diz Tommy Lee Jones em certo momento do filme, este filme até hoje, vem sendo erroneamente acusado de ateísta e de incentivar o suicídio. Isso seria mais um ponto a favor do personagem de Tommy Lee Jones (White), hoje em dia alguns criticam primeiro e raciocinam depois.

Este telefilme da HBO, com roteiro escrito e baseado na peça homônima de Cormac McCarthy o mesmo de Onde os fracos não têm vez (No Country for Old Men, 2007) e A Estrada (The Road, 2009), é um filme dirigido por Tommy Lee Jones que já havia dirigido o excelente Três Enterros de Melquiades Estrada (Three Burials of Melquiades Estrada – 2005)


Na trama, o evangélico ex-condenado Black (Samuel L. Jackson) salva o professor White (Tommy Lee Jones), que ia se jogar na frente de um trem do metrô do Harlem, o Sunset Limited. 

Tommy Lee Jones não interpreta nenhum militante ateu, tentando convencer crentes que estão errados. Lee Jones aborda o lado mais negro do pensamento analítico e raciocínio humano o "Niilismo Existencial". Não existe no planeta outro ator que poderia fazer esse papel a não ser Tommy Lee Jones o ceticismo e a descrença estão em cada ruga de seu ser. 

Talvez Al Pacino, mas ele já fez o diabo em Advogado do Diabo (The Devil's Advocate, 1997) ou outros filmes com uma abordagem próxima como o barra pesada e esquecido pela galera cinéfila Anjos Rebeldes (The Prophecy 1995) com Christopher Walken, ou o underground O Sétimo Selo (Det sjunde inseglet, 1956), mas a luta do bem contra o mal é para os fracos. 

No niilismo deus e diabo não são nada, além de fabulas e delírios ensinados e repetidos a exaustão pela mente humana. Niilismo existencial é um processo analítico de radicalização de pensamentos, uma visão crua daquilo que analisamos é o “vazio da existência”. Cabe a cada um organizar seus pensamentos e escolher se prefere acreditar que a importância do homem no planeta é a mesma de uma pedra, ou uma matéria orgânica como qualquer outra. Ou acreditar que somos a criação de alguma divindade entediada. Uma ótica severa, mas lúcida onde se encerram as ilusões e premiações de vida eterna, e fica o real. 




























Do outro lado fica Samuel L. Jackson (Black), talvez aqui se dê a desespero de alguns, já que não aceitam que o personagem (White) seja um professor culto e articulado, e (Black) apenas um ex- presidiário que ouviu a voz de "Deus". Que em alguns momentos remete ao pastor Jimmy Swaggart, que já foi o maior tele-evangelista do mundo. Aquele mesmo da música "Miracle man", de Ozzy Osbourne, o famoso Jimmy e seu incidente com prostitutas e que gerou o divertido clipe de Ozzy confira:




 Samuel L. Jackson (Black) carrega consigo a culpa e o arrependimento de crimes que ele mesmo diz de um violência impossível de descrever. Aqui entra um tema que muitos devem conhecer bem os extremistas religiosos, não é o caso de (Black). Mas como questionado por Tommy Lee Jones (White): "Porque certas pessoas não aceitam que outras não acreditam". 

Isso é fácil de constatar basta andar na rua por exemplo com uma camisa da banda Kiss, eu mesmo passei por uma senhora evangélica que olhou a camisa e disse: "Está repreendido Senhor". Como li uma vez num artigo de Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ. Essas pessoas realmente acreditam que dizendo essas palavras estão contatando seu "amigo" ou "divindade imaginária" e ganhando algum poder, do mesmo jeito que Mandrake diz “Abracadabra". Ou como antigamente quando católicos faziam o sinal da cruz quando viam algo que abominavam, hoje em dia menos. 

Samuel L. Jackson (Black) também diz que as pessoas sãs nem precisam ler a bíblia, que cada um sabe o que tem que fazer de certo na vida. Em certo momento (Black) diz que não tem as palavras para que (White) não cometa essa loucura, mas que (White) tem, mas não quer dizê-las. É paradoxal a crença em "Deus" vir de alguém que teria todos os motivos para seguir o caminho errado. Ou como diz (White) vários caminhos errados e apenas um certo. 

Se pensarmos bem 90% de quem faz coisas terríveis milagrosamente ouvem a voz da "entidade divina", recebendo perdões e a esperança aliviadora de ganhar a premiação do além. É como questiona (White), e se essa voz estiver apenas em seu pensamento?. Nada além do que uma auto-sugestão, para alguns mais do que bem vinda.

Todos nascemos ateus, um assunto que causa polêmica. Mas é a pura verdade somos manipulados  ao longo de nossa vida, com os termos "papai do céu" e outras coisas, quando crianças acreditamos em papai noel, coelho da páscoa e bicho papão. Ficamos adultos e deixamos de acreditar em papai noel e nos outros, mas a fábula "Deus" é a única que fica arraigada para alguns, como uma muleta emocional.

 Outro ponto de vista diferente e curioso sobre crenças é no filme As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012), onde o personagem resolve acreditar em todas as religiões e segui-las, uma boa idéia a ser debatida já que existem religiões com séculos de existência anteriores a Cristo e a bíblia, como o Hinduísmo. 

Até mesmo no seriado Os Simpsons no episódio "Homer, o Herege", Homer tenta explicar para Marge sua decisão de nunca mais ir a igreja: "E se a gente tiver escolhido a religião errada? A cada semana estamos deixando Deus mais e mais furioso!!. Aparentemente uma idéia simples mas como alguém pode afirmar que uma religião é melhor do que a outra na vida real? 

Ironicamente o lado bom da bíblia é que ela nos dá respaldo para toda a cinematografia zumbi, que temos. Já que esse tema é usado duas vezes uma na ressurreição quando um morto-vivo caminha sobre a terra, e outra no final dos tempos no apocalipse: "os mortos levantar-se-ão dos seus túmulos".

Talvez o único ponto em comum dos dois personagem seja a música, segundo (White) como uma das poucas coisas que tem algum significado como a música e arte. E (Black) que a coisa que mais sente falta na vida é poder ouvir música, já que onde mora se tivesse algum objeto de valor já estaria morto. Praticamente abordando uma das grades frases de Friedrich Nietzsche: "Sem a música, a vida seria um erro". 


O filme defende o fim da religião? Óbvio que não, é apenas um ponto de vista honesto e sensato da realidade, onde o medo do “vazio da existência”, é contrastado por uma compreensão de realidade que causam pavor e angustia em muitos. Será que o simples fato de questionar religião é um teste de sua fé?, ou um momento de lucidez de raciocínio verdadeiro?. 

O escritor Voltaire defendia que as massas populares não conseguiriam viver uma moral coerente se não temessem uma entidade divina, e isso é uma verdade até os dias de hoje. Mas se alguma religião conseguir chegar ao poder o caos será o pior de todos. Vide a santa inquisição. 

 The Sunset Limited é um filme questionador e visceral, a direção de Tommy Lee Jones é impecável, o uso de câmeras em um ambiente pequeno é perfeito. Nem por um minuto você vai conseguir tirar os olhos dos personagens que travam uma batalha de idéias em seus 90 minutos. 


Filmado com uma câmera Sony F35 , segundo uma entrevista de Tommy Lee Jones: "O Set foi projetado com 11 peças diferentes para as paredes, tivemos muito cuidado em colocar o set juntos, poderia pegar uma dessas 11 peças e tirá-los do caminho em sete minutos ... e, quando chegou a hora de mover a câmera, coloca-lá de volta em sete minutos. Então tivemos que fazer alguma inovação e alguma invenção para tornar isso possível. Esses são alguns dos desafios. Tivemos de cuidadosamente estar preparados para fazer tomadas longas e trabalhar de forma consistente ao longo de um espaço de tempo com a câmera, para saber como se relacionar com a câmera, se ele está aqui, e depois de dois minutos e meio depois ... Bem, para dois minutos e meio saber exatamente onde ela estava."

The Sunset Limited é um filme maior, angustiante para uns e realista para outros. Que vai incomodar principalmente quem vive as ilusões arcaicas, quem acha que merece um bônus por bom comportamento no final da vida, e foge da fatalidade do real e prefere o afago de uma promessa de felicidade eterna além da vida. 

A proposta do filme é questione-se e essa é a postura niilista veja o real, mesmo que o real mate todas as ilusões. Um filme feito por dois grande atores do cinema Tommy Lee Jones e Samuel L. Jackson, por enquanto o filme está completo no youtube (confira).

Ou confira o trailer:



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