Nova York - Terra de Ninguém (The Park is Mine, 1986)

 "Tenho uma mensagem para a cidade de Nova York de agora em diante, o Central Park é meu"

Ver Tommy Lee Jones com uma AK47, é para poucos. Digo isso porque Nova York - Terra de Ninguém (The Park is Mine, 1986) é um dos filmes mais undergrounds de se conseguir, até onde sei foi lançado em VHS e existem apenas algumas cópias no site da Amazon, nunca foi lançado em DVD. Não vou nem comentar o título em português porque acho que países como Brasil e Portugal foram imbatíveis em traduções e adaptações hilárias de títulos.

Nos tempos áureos da Rede Globo, este filme ao lado de Lua Negra - O Super Carro (Black Moon Rising, 1986) onde Tommy Lee Jones atuava com Linda Hamilton num roteiro parcialmente escrito por John Carpenter e na aventura pirata A Dupla Dinâmica / Piratas das Ilhas Selvagens (Nate and Hayes, 1983), faziam sucesso na Sessão da Tarde e Domingo Maior.

Conversando com um amigo sobre esse filme ele disse que a maioria das pessoas hoje em dia, só conhece Tommy Lee Jones por causa do filme Homens de Preto (MIB, 1997) e que já existe uma geração que nem sabe que o filme Fugitivo (1993) existiu, muito menos Nova York - Terra de Ninguém. Se você faz parte dessa geração, e nunca ouviu falar deste filme, use suas técnicas e estratégias alternativas para conseguir este filme. Porque este filme é um cult obrigatório para todo fã de Tommy Lee Jones que se preze.

Nova York - Terra de Ninguém ( The Park is Mine, 1986), é um filme feito para a TV dirigido por Steven Hilliard Stern, o filme foi filmado em grande parte em Toronto, o diretor somente fez filmes para TV sem grandes destaques. Tommy Lee Jones interpreta (Mitch) veterano da Guerra do Vietnã, que tem dificuldades de se adaptar a vida civil, já que nos empregos que consegue recebe ordens de idiotas e é sempre humilhado. Sua ex-esposa Rachel (Gale Garnett) está preocupada apenas com a pensão do  filho e sequer deixa que Mitch (Jones)  veja o garoto. Ao meu ver a esposa é a grande vilã do filme já que ela diz para Mitch (Jones)  que ele é um fracassado e perdedor, que ele deveria abaixar a cabeça e receber ordens de idiotas, assim como todas as pessoas fazem.

Mitch (Jones) descobre uma carta de um amigo veterano do Vietnã que tinha câncer e cometeu suicídio pulando do telhado de um hospital, ele passava pelos mesmo problemas de humilhação e exclusão. Só que esse amigo tinha planos para assumir o controle do Central Park em Nova York. Tudo planejado com mapas, arsenal de armas, bombas, fuzis AK-47 e lançadores de granadas. Tudo isso armazenado em um túnel de drenagem no parque. Quando Mitch (Jones) vai verificar se tudo isso era verdade, mais uma situação contribui para sua decisão, quando está sentado no parque descansando apenas olhando um mapa, ele é hostilizado e expulso por policiais, mesmo dizendo que é um veterano de guerra.

Muitos podem dizer que esse filme seria a versão Rambo de Tommy Lee Jones, mas mesmo assim possui grandes diferenças. O filme é baseado no romance de 1981 de mesmo nome escrito por  Stephen Peters o mesmo que escreveu Garotas Selvagens (Wild Things, 1998) .

Quando Mitch (Jones) assume o controle do parque ele tem apenas os objetivos de não machucar ninguém e permanecer no parque por 72 horas até o dia dos Veteranos que é um feriado nacional nos Estados Unidos, e mostrar as pessoas comuns que elas podem fazer a diferença.

Mitch: "Tudo que quero é que pensem em suas vidas nesta cidade, pensem em como são tratados e como tratam os outros, vim para mostrar que uma pessoa pode ter o poder, que eu faço a diferença e não vou desaparecer"

Mesmo depois de 26 anos, este filme ainda tem uma mensagem atual e questionamentos, ainda mais hoje em dia. Será que estamos fazendo aquilo que queremos, ou apenas seguimos em frente apenas para manter o "status quo"?. Será que somos tratados como gostaríamos ou fingimos que sim, como a ex-esposa do personagem sugere. Também é interessante notar alguns trejeitos de personagens famosos que Tommy Lee Jones veio fazer muito tempo depois como seu Sam Gerard de Fugitivo (1993) e seu Ryan Gaerity de Contagem Regressiva (1994). 

Outro rosto bastante conhecido dos cinéfilos de plantão é o ator Yaphet Kotto (Eubanks) que aqui interpreta o sargento da polícia, completamente apagado, até existem alguns momentos em que ele tenta enfrentar as ordens reacionárias de seus superiores, mas mesmo assim está bem abaixo de seu talento. Existem cenas que ele é interrompido antes de dizer qualquer coisa. Nem de longe lembra o show de interpretação que fez como Kananga em 007 Viva e Deixe Morrer (Live and Let Die, 1973).

Outro rosto de destaque e da atriz Helen Shaver (Valery) que faz a jornalista que acaba conseguindo entrar no parque para filmar, acaba criando um vinculo de amizade com Mitch e ainda consegue enxergar seu lado humano. O filme é tão "roots anos 80" que a câmera  que a repórter usa é uma Sony Betamax !!!. Ela também é protagonista de uma semi-nudez relâmpago cortesia anos 80. 

 Também é dela uma das cenas mais dramáticas, quando realmente uma civil é atingida sobe fogo cruzado. Coisa que parece cotidiano de muitas cidades hoje.

Talvez esse filme não fosse feito atualmente, por causa do politicamente correto. No próprio filme os burocratas fazem de tudo para tirar Mitch (Jones), antes do prazo de 72 horas, já que Mitch estaria tendo a simpatia da opinião pública. 

 Chegando a loucura da prefeitura contratar dois mercenários para eliminarem Mitch, sendo um deles um vietcongue!!!. O filme também deve estar no ranking de menor "body count" da história do cinema de ação, apenas dois corpos. Até mesmo quando Mitch derruba um helicóptero a tiros.

Os pontos fracos ficam por conta da enjoada trilha sonora da banda Tangerine Dream, se bem que isso era uma mania recorrente a vários filmes feitos nos anos 80, colocar uma trilhazinha eletrônica. Imagine esse filme com a trilha de Hans Zimmer!!. Tommy Lee Jones dá um show de interpretação, mostrando todo o lado dramático e dando profundidade ao personagem, esse filme nas mãos de outro ator qualquer seria um fiasco absoluto.

Nosso querido e invocado Tommy Lee Jones já disse certa vez em uma entrevista:

"Tenho uma conduta própria que é mau interpretada, trabalhei muito na vida, adquiri uma vasta experiência e três coisas preocupam-me na profissão: detesto erros, negligência e incompetência"

Espero que esse filme não seja negligenciado por muito tempo e seja lançado em blu-ray, e que os "burrocratas" não sejam incompetentes, e não errem esperando muito para lançar, até onde pude constatar a fox detém os direitos sobre o filme e não existe nenhuma previsão ou menção ao lançamento deste cult anos 80.

Tommy Lee Jones seja em 1986 ou em 2012 sempre faz personagens que ficarão em nossas mentes para sempre, talento é para poucos. E assistir Tommy Lee Jones com uma AK47 dizendo "fuck you" para um engravatado é impagável!!!. Se você é fã de Tommy Lee Jones e ainda não viu esse filme, corra atrás. Será complicado achar mas vale a pena, é um clássico.