A Jugular Blindada (Last Hurrah for Chivalry, 1979)

 John Woo representa para o cinema asiático o que Martin Scorsese ou Francis Ford Coppola representa para os americanos. Um incrível senso estético para cenas de ação e movimentos orquestrais que deixam qualquer amante do cinema de ação de queixo caído. E A Jugular Blindada (Last Hurrah for Chivalry, 1979), não foge a regra.

Mas voltando um pouco no tempo, na época do VHS um amigo me pediu uma dica de filme de ação para alugar, ele nem era nenhum cinéfilo e reclamava que os filmes de ação eram fraquinhos. Eu disse para ele: "Então aluga Fervura Máxima!!".

Não deu outra, ele ficou falando desse filme pelo menos uns três dias, que o filme era o mais foda que já tinha visto, e lembrando de cada cena do filme. Onde quero chegar com esse exemplo acima, é na linguagem de cinema de John Woo ela é universal, pura arte em forma de imagens.

Quem assistiu obras primas como o citado Fervura Máxima (Hard Boiled, 1992), The Killer - O Matador (1989), Alvo Duplo (A Better Tomorrow, 1986), Bala na Cabeça (Bullet in the Head, 1990), praticamente ficou órfão de John Woo quando a convite de Jean-Claude Van Damme o diretor foi para a América dirigir O Alvo (1993), e permaneceu por lá por um bom tempo.

Tudo bem que desde Sergio Leone, que Hollywood não se rendia a um diretor estrangeiro. Mas os filmes de Woo para hollywood não chegam nem perto do que ele já fez, mesmo mantendo algumas de suas marcas registradas, e verdade seja dita são filmes para maricas!!!. O que se destaca um pouco mais é A Outra Face (1997). Até uma tentativa de retirar das tumbas a carreira do ator Dolph Lundgren foi tentada com o filme Blackjack (1997) mas sem sucesso.

Revendo Jugular Blindada (Last Hurrah for Chivalry, 1979), mesmo com excesso de coloridos e lantejoulas as batalha são fantásticas e os confrontos sangrentos transformam este filme como item obrigatório para qualquer fã de John Woo que se preze é Wuxia em sua essência.

Visto hoje pelas novas gerações, algumas lutas podem parecer lentas num primeiro momento, mas não se enganem, leve em consideração que esse filme tem 33 anos, e passa tranquilamente pela prova do tempo. As lutas são feitas praticamente sem cortes de câmera e filmadas com planos abertos, o trabalho espetacular de coreografia ficou a cargo de Fung Hak-On, que também faz o vilão Pray.

 Interessante ver neste filme é o estilo de John Woo se desenvolvendo, como o  uso de câmera lenta e experiências com alguns movimentos de câmera. O filme pode até falhar em momentos de dramaticidade, e personagens que surgem do nada, mas na verdade isso pouco importa, já que é lutas sangrentas que queremos, e isso o filme tem de sobra. 

Sinopse: Kao Pang (Lau Kong) é atacado em sua noite de núpcias por seu inimigo, Pak Chung Tong (Lee Hoi-San) que entrega como presente de casamento uma cabeça de porco,. Derrotado e ferido, Kao consegue escapar e  jura vingança. Como Pak Chung Tong é o melhor lutador, Kao Pang decide iniciar uma amizade com Chang San (Wei Pai) e contratar o espadachim alcoólatra e mercenário Tsing Yi (Damian Lau) para derrotar Pak Chung. Isso sem antes criar uma conspiração para testar a capacidade de Chang levando a enfrentar (Fung Hak-on) o personagem Pray. Kao também promete cuidar da mãe de Chang que está morrendo, quando está morre Kao organiza um grande funeral. Chang é grato promete ajudar Kao. 

Há reviravoltas inesperadas e três grandes combates no filme, um contra Pak Chung Tong (Lee Hoi-San), uma luta impressionante praticamente sem cortes, sem falar na forma como Pak Chung morre, o ator Lee Hoi-San é mestre em Wing Chun na vida real e uma figura presente em vários clássico do cinema de Hong Kong.

Outra momento hilário é com um espadachim monge que luta dormindo, interpretado pelo ator Chin Yuet-sang. E finalmente o combate final que é de tirar o fôlego. Não vou fazer spoilers, já que este filme poucos puderam assistir. 

Um ponto negativo é que só existe uma beldade de destaque no filme inteiro, a atriz Ngai Chau-wa que faz o interesse amoroso de Tsing Yi (Damian Lau), realmente é um filme sem espaço para sentimentalismos, e em 1979  o papel da mulher no cinema asiático ainda estava longe de ter o destaque de hoje. O ator Damian Lau também já participou de dois filmes que tiveram resenha aqui no blog como The Heroic Trio (1992) e ao lado de Donnie Yen no filme 14 Blades (2010).

 O filme é produzido por uma lenda Raymond Chow o mesmo de Operação Dragão (1973) e de um número incontável de clássicos, foi lançado pela Golden Harvest. No DVD também existe um documentário chamado "Familiar Faces A Film Retrospective Damian Lau Lee Hoi-san" que mostra esses dois lutadores em várias cenas clássicas do cinema. Este filme pode não estar entre os Hits de John Woo, mas com certeza é um dos pilares de sua trajetória no cinema.

John Woo felizmente deixou de lado um pouco o mundo de hollywood, e voltou em grande estilo, fez as pazes com seus antigos fãs, primeiro lançando o game Strannglehold (2007) para PC,  PlayStation 3 e Xbox 360. Eu pude jogar este game que é simplesmente incrível, o jogo é a continuação do filme Fervura Máxima e pode ter certeza que você vai se sentir como se estivesse nesse filme. Confira o trailer:

E no cinema lançou filmes como A Batalha dos 3 Reinos (Red Cliff part I, 2008), (Red Cliff part II, 2009) e colaborou com o imperdível Reino de Assassinos (Reign of Assassins, 2010) onde dizem que participou apenas como produtor, mas quem assistiu pode ver que a mão de John está presente o tempo todo.

Jugular Blindada (Last Hurrah for Chivalry, 1979), é aquele filme item de colecionador, que é praticamente obrigatório na sua videoteca, quem é fã do diretor John Woo e ainda não viu, de uma procurada no youtube, por enquanto está lá em versão completa. Seja a título de curiosidade ou mesmo para acompanhar o desenvolvimento do diretor e do mundo das artes marciais até chegarmos ao mais espetacular filme de ação da atualidade que é o caso do filme The Raid (2011).