JCVD (2008) é um daqueles filmes que te pegam de surpresa, mas calma amigos leitores Van Damme não recriou o clássico filme dirigido por Sidney Lumet estrelado por Al Pacino. Mas em comparação com sua própria filmografia Van Damme tentou e o resultado surpreende.
Mesmo tendo sido lançado a um tempo esse filme merece ser conferido. Como referência ao filme clássico Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975) temos o assalto com reféns e um vilão parecidíssimo com o ator John Cazale que interpretou Sal. Essa temática já foi usada em milhares de filmes, mas aqui ainda funciona.
Van Damme interpreta a si mesmo, quase uma auto biografia mostrando todas suas derrotas. Um herói de ação que teve seus dias de glórias entrou em decadência e envelheceu, abordando sua fase de drogas e todas as regalias que tinha como astro e acabou perdendo. Confesso que nunca fui grande fã de seus filmes, sempre preferi os "made in hong kong" com Jackie Chan, Jet Li e outros, mas acabei vendo a maioria dos seus filmes. E JCVD acabou sendo uma boa surpresa.
Os heróis envelheceram desde de que Danny Glover acabou inaugurando essa frase com seu personagem Roger Murtaugh dizendo: “Estou velho demais para isso" em Máquina Mortífera (Lethal Weapon, 1987) o mundo do cinema de ação demorou um tempo para acreditar nisso. Mas atualmente é quase um tema recorrente. Até mesmo o público tem uma certa identificação com o tema, já que boa parte envelheceu junto com seus astros, e também vê esse novo mundo do cinema com sua enxurrada de "reboots", "remakes" e "prequels" com desanimo.
Até Steven Seagal já tentou essa abordagem em O Jogador (2008), tentando desmistificar essa aura de "super fodão indestrutível", mas os resultados acabaram virando comédia. Falando em Seagal citações são o que não faltam neste filme, além do já citado John Woo, sobram diálogos com referencias a Chuck Norris, Steven Segal, e Schwarzenegger e seu True Lies (1994) e várias teorias hilárias no melhor estilo Pulp Fiction (1994) são usadas.
A sinopse é bem simples Van Damme endividado, com as piores propostas de trabalho do mundo e perdendo a guarda de sua filha, vê sua carreira chegando ao fim, ele volta para Bélgica, sua terra natal, para tentar retomar sua vida. Mas se vê envolvido num assalto a banco que se transforma em uma situação de reféns, onde Van Damme acaba virando um dos reféns, e ainda é usado pelos assaltantes como se fosse o próprio que estivesse assaltando o banco.
Como diz um policial em uma das cenas: "Mandem reforços Jean-Claude Van Damme está assaltando um banco!!"
Van Damme consegue mostrar que é um bom ator, desmitificando toda a aura de astro de ação. Em seu monólogo Van Damme fala de sua descida até o inferno, e que em todos seus anos de pancadaria, o que ele fez da vida?. Um homem que foi usado pela industria do cinema até onde pode, e depois jogado fora. Como dito no filme herói do século passado.
Até mesmo o culto as celebridades é abordado com ironia, desde de fanboys até a velha taxista que em certo momento diz: "Hey seja agradável comigo eu sou sua fã, e daí que você está cansado"
O Filme não tem uma cena de luta, e mesmo assim acaba sendo o melhor filme de sua carreira, sincero e honesto. Com uma linha narrativa sobre várias perspectivas assim como Corra, Lola, Corra (1998) é conduzido habilmente pelo diretor.
É dirigido pelo franco-argelino Mabrouk El Mechri com uma bela fotografia em tons sepia e um bom gosto na escolha na trilha sonora, dão ao filme um tom quase anos 70. Van Damme deu um show de vilania em Mercenários 2, mas neste filme a forma como encaramos o rei do espacate acaba mudando de figura.
Você não vai se arrepender de ver JCVD, um Van Damme melancólico e dramático como nunca antes visto, um herói do século passado envelhecido. Mas como diria Dany Glover com seu Roger Murtaugh: "Nós não estamos velhos demais para essa merda".
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