quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Deus perdoa ... Eu não! (Dio perdona... io no!, 1967)

Posted by Cândido Augusto on 17:52



O primeiro filme da dupla Bud Spencer e Terence Hill, que deu início a uma das parcerias mais famosas e queridas do cinema, isso descontando um filme anterior chamado Aníbal O Conquistador (Annibale, 1959), que até onde sei, não teve nenhuma cena da dupla interagindo. Mas pode ir esquecendo toda aquela parte cômica e divertida da série Trinity o filme Deus perdoa ... Eu não! (Dio perdona... io no! / God Forgives... I Don't!, 1967) é um violento western spaghetti. 

Se Sergio Leone teve sua trilogia do doláres, o diretor Guiseppe Colizzi acabou sendo esquecido, sua trilogia teve início com Deus perdoa ... Eu não! (Dio perdona... io no! / God Forgives... I Don't!, 1967),  Os 4 da Ave Maria (I quattro dell'Ave Maria, 1968) e Boot Hill - A Colina dos Homens Maus (La collina degli stivali, 1969) onde ele nos apresenta os personagens de Cat Stevens (Terence Hill) e Hutch Bessy (Bud Spencer). Quem já teve oportunidade de assistir a trilogia de Guiseppe Colizzi também deve ter notado a disparidade entre cada um dos filmes, nem parece que foi o mesmo diretor que dirigiu os três. 

Enquanto Deus perdoa ... Eu não! é um espetáculo de violência, o segundo capítulo da trilogia Os 4 da Ave Maria é uma obra prima contendo todos os elementos clássicos do western spaghetti, e já moldando o estilo da dupla Bud Spencer e Terence Hill, com alguns toques de humor e o famoso estilo de luta de Bud Spencer. Os 4 da Ave Maria pode figurar tranquilamente em qualquer lista de melhor western de todos os tempos. Nosso saudoso Guiseppe Colizzi costumava ser acusado de emular o estilo de Sergio Leone, e este filme pode ser considerado seu O Bom, o Mau e o Feio já que tem a presença de ninguém menos que o ator Eli Wallach que fazia o personagem Tuco no filme  O Bom, o Mau e o Feio (Il buono, il brutto, il cattivo, 1966). É inacreditável como estes filmes não chegaram a era do bluray, talves agora com Django Livre de Quentin Tarantino o western tenha uma atenção maior das distribuidoras.

Já o último capítulo da trilogia Boot Hill - A Colina dos Homens Maus é completamente estranho, confuso e com cenas cansativas, realmente Guiseppe Colizzi não conseguiu encerra a trilogia em grande estilo como fez Sergio Leone. Como eu disse nem parece que foi o mesmo diretor do filme anterior, nem a trilha sonora se destaca. Colizzi só voltaria a trabalhar com a dupla na comédia Dá-lhe Duro, Trinity (Più forte ragazzi!, 1972)

Picaretagens e malandragens a parte fizeram todos estes 3 filmes virarem "Trinity" por algumas distribuidoras, não só no Brasil mas ao redor do mundo. Algumas das pérolas: o filme Deus perdoa ... Eu não! no Brasil acabou saindo cartazes com o título Deus perdoa ... Trinity não!, o segundo filme Os 4 da Ave Maria tem a burrice ainda maior já que ganhou o título de "Assim Começou Trinity", já o terceiro filme apenas teve uma pequena mudança e virou "Trinity e a Colina dos Homens Maus". Isso sem falar em mais duas picaretagens chamadas: Sons of Trinity (Trinità & Bambino... e adesso tocca a noi, 1995) e Trinity Goes East (1998).


Mas vamos falar de Deus perdoa ... Eu não! (Dio perdona... io no! / God Forgives... I Don't!, 1967), o título em si, já é um show a parte. Por uma obra do destino quase não temos a criação da dupla Terence Hill e Bud Spencer, já que o papel de Terence Hill  inicialmente era do ator Peter Martell (Pietro Martellanza), e já haviam até cenas filmadas entre Bud Spencer ao lado de Peter Martell, mas graças a "DIO", Peter Martell quebrou um pé, depois de uma discussão com a namorada. E Terence Hill assume o papel do personagem Cat Stevens, até mesmo Bud Spencer foi escolhido apenas pelo seu tamanho. 

O filme é violento mesmo, sujo, mau e empoeirado, como todo bom western deve ser, e já começa a trama com um trem chegando a estação com seus passageiros todos mortos, a maioria com tiros na cabeça, por aí já temos uma idéia que o filme não está para brincadeira, o filme é tão violento que até um gato leva um balaço.


O  único sobrevivente consegue contar o ocorrido para companhia de seguros e sobre o roubou do ouro no valor de 300 000, Hutch Bessy (Bud Spencer) trabalha para a seguradora, e conta sobre o roubo para seu "mais ou menos amigo" Cat Stevens (Terence Hill) que  suspeita de Bill San Antonio (Frank Wollf), só que Bill era para estar morto, já que teve um duelo com Cat Stevens num barracão em chamas a um ano atrás e teria sido morto. O único ponto que pode se dizer negativo desse filme foi o uso excessivo do recurso de flashbacks, o diretor exagera, não atrapalha a trama mas poderia ter sido evitado, mas em 1967 quem se importaria. 


Cat Stevens começa a investigar e descobre que o bandido esta vivo, descobre também onde o bandido escondeu o ouro, nessa parte em que Cat Stevens está no esconderijo toca uma bela trilha sonora ao violão, infelizmente essa parte, não está na trilha sonora oficial de Carlo Rustichelli. 

Cat Stevens cai em uma armadilha e fica pendurado de cabeça para baixo, é quando os bandidos o encontram, e começa uma luta com Terence Hill de cabeça para baixo mesmo, você até torce para que Terence Hill consiga enfiar a porrada em todo mundo, mas não consegue e é salvo por  Bud Spencer. Na trilogia do diretor Guiseppe Colizzi os personagens de Bud Spencer e Terence Hill são totalmente o inverso dos filmes Trinity, enquanto Bud Spencer é mais bem humorado e até sorri!!!!. 


O personagem de Terence Hill é sério invocado e não sorri em momento algum. Os mais chatos vão dizer que Terence Hill está um Clint Eastwood puro e escarrado, mas mesmo assim ficou foda. Um ano depois Terence Hill foi fazer Django (Preparati la bara!, 1968).



Deus perdoa ... Eu não! é sem dúvidas o mais violento de toda a trilogia, quando Bud Spencer e Terence Hill conseguem roubar o ouro do bandido e esconde-lo, são capturados e torturados para valer, a cena de tortura de Bud Spencer e violenta mesmo, e você que pensava que a cena de tortura do filme Rambo era violenta, em 1967 a coisa não era amenizada. Por causa da violência do filme ganhou censura 18 anos em alguns países. Neste filme também tem uma cena mano a mano entre Bud Spencer e Terence Hill adivinha quem ganhou?




O diretor Guiseppe Colizzi pode até ter usado momentos "Sergio Leone", mas que ficaram irretocáveis, Colizzi manteve o filme extremamente tenso, com uma trilha sonora com momentos tenebrosos como a música intitulada Dies Irae. O vilão do filme Bill San Antonio feito pelo ator Frank Wollf, é um show de maldade, quase roubando a cena. O embate final da dupla com o vilão do filme pode figurar tranquilamente entre os melhores momentos do western. 

É triste saber que a trilogia do diretor Guiseppe Colizzi, ainda não chegou a era do bluray, e está jogada em algum estúdio apodrecendo, merece uma restauração e um lançamento com qualidade, dizem que a versão alemã em DVD de Deus perdoa ... Eu não! tem 12 minutos a mais. Vamos torcer para que Quentin Tarantino e seu Django Livre tenha conseguido trazer a "western mania" de volta, e clássicos como este não fiquem perdidos com suas versões toscas em DVD.

Deus perdoa ... Eu não! é o primeiro filme da dupla mais querida da história do cinema, e um clássico obrigatório aos fãs da dupla, e de um bom western sujo, sangrento, malvado e empoeirado. 



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